Horta Urbana - Factor de Coesão Social e Regeneração Ambiental
Quando vivemos durante anos numa cidade, como Lisboa, criamos rotinas diárias, de uma certa alienação, para com a Natureza e o Meio Ambiente.
Comecemos pela rotina diária
É possivel, que um cidadão, saia de manhã, da garagem de sua casa, direto para outra garagem, no seu local de trabalho, faça uma pausa para o almoço, sem sair do edifício onde trabalha - quer seja, porque existe um espaço de refeições na empresa; leva uma marmita; chama a uber eats ou come uma diária no snack-bar do rés-do-chão.
No final do dia, o mesmo cidadão, volta a descer até à garagem e, novamente no seu carro, parte para outra garagem de um centro comercial, onde depois da sagrada ida ao ginásio, toma um café e passeia pelo shopping enquanto se abastece dos bens que acha necessários - e pelo caminho mais meia dúzia de coisas desnecessárias, mas que lhe parecerem interessantes e estavam dentro do seu orçamento.
No final, desce de escada rolante até ao estacionamento, na cave do edifício, e volta a colocar-se em marcha, ao volante da sua viatura com ar condicionado, para recolher o filho na escola, mais uma vez sem sair do carro, porque o puto já está de sentinela à espera (para não pagar estacionamento), e seguem ambos a caminho de casa, onde entram pela garagem, com comando automático, e sobem de elevador (afinal de contas, para que é que pagam a sua manutenção) até ao apartamento, onde despejam as compras e sintonizam a sua TV com ecrã plano, comprada em promoção, por um preço fantástico(!), depois de muitas deambulações, online e offline.
Enquanto os pais vão fazendo o jantar e arrumam as compras, o filho pega na consola de videojogos. Mas, se estiverem muito cansados, ou sem paciência, chamam o jantar pela uber ou glovo e ficam no sofá à espera que esteja pronto. No final do jantar, estão mais sonolentos e enterram-se, no confortável sofá Ikea, a seguir a sua série favorita.
Pode acontecer que nesta casa haja um cão, e nesse caso, o nosso cidadão irá sair à rua, para o levar a passear, o que é uma chatice, porque já está em modo casa-roupão-chinelos e sem energia, mas lá vai com o cão dar a volta na rua do costume, onde o bicho faz as necessidades na árvore do costume e, com sorte, se não há nenhum vizinho a olhar, segue sem apanhar aquela porcaria do chão. Sim, porque ter um cão, num apartamento, na cidade, não é tão agradável como no mundo de fantasia das TVs.
Pode acontecer que nesta casa haja um cão, e nesse caso, o nosso cidadão irá sair à rua, para o levar a passear,
Vamos reescrever mais um dia banal da sua vida, numa cidade sustentável!
Agora imagine que esta família tinha uma horta comunitária, no bairro onde mora, uma escola próxima para o filho e ciclovias disponíveis em toda a cidade.
É possivel, que o mesmo cidadão, se levante mais cedo de manhã, com o filho para regar a horta antes de deixar a criança na escola, que agora é mais próxima de casa e por isso vão ambos a pé, enquanto o carro descansa na garagem de sua casa.
Depois de deixar o filho na escola, o mesmo cidadão pega na sua bicicleta e vai direto para o metro onde entra na última carruagem, onde já estão algumas caras conhecidas que saem na mesma paragem e o acompanham, também de bicicleta, até à porta do trabalho.
No seu local de trabalho, faz uma pausa para o almoço, sem sair do edifício onde trabalha, porque trouxe a sua marmita, que é a chacota dos seus colegas, que lhe dizem que ele parece um grilo, porque só come saladas e coisas esquisitas. Após a sua refeição saudável, com alguns petiscos da horta, desce para conviver e tomar café com os colegas, que estão no café do edifício ao virar da esquina, onde almoçaram o prato do dia, ou uma sopa salgada e um snack gorduroso. No final sobem todos de elevador e ele acompanha-os.
No final do dia de trabalho, desce pelas escadas e vai de bicicleta, desta vez direto para casa, porque com a horta e a bicicleta já não sente necessidade de ir para o ginásio - além disso, sente que os locais fechados, com ar condicionado, não são os mais saudáveis, para se manter a forma física e a saúde, sobretudo para quem já passa oito horas do dia enfiado num escritório, ou num centro comercial / industrial.
Na contabilidade do nosso cidadão, o dinheiro do ginásio, vai agora direto para uma conta poupança e o tempo do ginásio (mais as andanças entre o ginásio e o parque do shopping ), é mais do que suficiente para um calmo regresso a casa, de bicicleta, com passagem pela horta onde, se estiver bom tempo, encontra o filho e alguns vizinhos, a desfrutar dos últimos raios de sol, enquanto plantam e cuidam das suas hortaliças e fruta. No final, segue para casa com alguma hortaliça ou erva aromática, para o jantar!
De caminho, consoante os dias, passam na mercearia, na peixaria ou na padaria local onde, entre dois dedos de conversa, aviam as compras, que agora são mais reduzidas, porque nesses locais as estratégias de marketing, são bem menos agressivas, e se limitam ao atendimento personalizado do cliente e alguma empatia. Quando muito, podem fazer-lhe um convite à compra de algum produto por altura do natal ou páscoa, mas os apelos ao consumo são bem menos insistentes, do que nas grandes superfícies comerciais.
No final do mês, o nosso cidadão, comeu melhor, socializou mais, exercitou-se ao ar livre, e ainda poupou uns cobres valentes, porque cancelou todas as idas ao ginásio e reduziu drasticamente as compras por impulso, durante os raros passeios pelo shopping com os amigos ou a família.
Após o jantar, o nosso cidadão, sente-se agora com mais energia e por isso, de bom grado sai para passear o cão pela trela, coisa que lhe parece cada vez mais disparatada, porque os animais, tal como ele, querem-se soltos e com actividade livre!
Aproveita estas caminhadas para sonhar, com uma casa nova, que tenha uma grande horta e espaço suficiente para o cão, um gato e quem sabe, até algumas galinhas, para ter ovos , como aqueles, que lhe traz a tia Gracinda, quando o vem visitar!
Quando chega a casa, o nosso cidadão, coloca as fezes do seu cão, na compostagem, com a segurança de saber que, com este simples gesto, está a reduzir cerca de 100 Kg de resíduos orgânicos (e a necessidade do seu transporte e de deposição em aterro).
Não vai usar este composto, na sua horta, porque sabe que o seu cão não é um animal muito saudável, pois alimenta-se de uma monótona ração e vive fechado num apartamento, sem grandes possibilidades de se exercitar, mas usa-o para adubar as suas plantas ornamentais, porque este composto, junto com os seus restos de comida, é uma boa fonte de matéria orgânica.
No final, vai para a sala, pesquisar na internet, com a mulher e o filho, quintinhas baratas, para restaurar, perto da sua cidade, porque agora está na moda o teletrabalho e ele está a negociar com o seu patrão essa possibilidade.
Com o teletrabalho e as poupanças que está a conseguir fazer, talvez seja mais fácil do que julgava, realizar o seu sonho de ter uma casa com quintal!
E talvez até, este ano, para acelerar o processo, abdique das suas férias no estrangeiro e dos planos para comprar um carro novo, mais moderno, com que sonhava antes!
Horta Urbana - factor de coesão social e regeneração ambiental
Os sonhos mudam, quando mudamos, algumas coisas na nossa vida.
Porque descobrimos que a vida, afinal, é muito mais do que apenas o sucesso material e o conforto imediato que antes buscavamos!
Se não mudarmos nada, os nossos sonhos também não irão mudar!
Nem tão pouco, a nossa permanente insatisfação consumista, que nos consome!